terça-feira, 1 de junho de 2010

Afoxé

A religiosidade e a musicalidade dos atabaques, agogôs e xequerês. Essas são as duas características principais dos afoxés, também chamados de "candomblés de rua". Estas entidades carnavalescas são manifestações artístico-culturais que têm origem nos espaços sagrados da religiosidade negra, os terreiros de candomblé, com sua música ritualística, seus instrumentos próprios e suas vestimentas e danças. Com roupas coloridas fazendo referências aos orixás, cantigas em iorubá, instrumentos de percussão e danças no ritmo do ijexá, os afoxés são considerados as primeiras entidades negras a desfilarem no Carnaval. Assim como ocorre em rituais do candomblé, o ritmo é marcado por uma figura de destaque que incita o grupo puxando uma canção, com os demais respondendo prontamente.

Na primeira metade do século XX, existia uma divisão espacial no Carnaval de Salvador, determinada pela posição econômica dos foliões. Enquanto que Baixa dos Sapateiros, Taboão, Barroquinha e Pelourinho eram dominadas por afoxés e seus temas negros, as áreas consideradas nobres eram destinadas aos grandes clubes.

Formado exclusivamente por homens, o afoxé Filhos de Ghandy encontrou inspiração nos princípios do pacifista hindu Mahatma Ganhdhi (1869-1948) que pregava a paz e a não-violência. Formado em 1949 por estivadores do Porto de Salvador, a entidade, que completa 60 anos, tornou-se um dos afoxés mais famosos. Quando desfilam nas ruas, os Filhos de Gandhy formam, com seus 10 mil foliões e trajes feitos com toalhas e lençóis brancos, uma das mais belas imagens carnavalescas: o tapete branco da paz. A garantia de inovação dentro da tradição vem de entidades como o afoxé Bankoma, que mesmo tendo sido criado há apenas 13 anos, na Associação São Jorge Filhos da Goméia (tradicional Terreiro do município de Lauro de Freitas), contribuiu para o fortalecimento do espaço dos afoxés na folia momesca.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Tambor de Crioula

O tambor de crioula é uma dança afro-brasileira encontrada no Estado do Maranhão e praticada sobre tudo por descendentes de africanos. A principal característica coreográfica da dança é a formação de um círculo com solistas dançando alternadamente no centro. Um de seus traços distintivos é a Punga ou Pungada, (a umbigada).

A música que acompanha a dança é tocada por três tambores de madeira com couro preso por cravelhas em uma das extremidades e fixados por fricção. Os tambores são afunilados e escavados. Atualmente utilizam-se também tambores de cano plástico PVC.

O tambor maior, chamado de “tambor grande é o solista. Há dois outros tambores, o segundo chamado de” "meião" ou "sucador", que estabelece o ritmo básico de 6/8 e o terceiro "crivador" ou "pererengue" que realiza improvisos em 6/8. A música africana é freqüentemente caracterizada como sendo polimétrica, porque, em contraste com a música ocidental, cada instrumento no conjunto, possui medidas diferentes, permitindo diversas possibilidades de variação e de improviso para o tambor que lidera o grupo. Após serem tocados, os tambores são colocado diante de uma fogueira para afinar o couro. Os tambores são similares aos utilizados no culto Mina-Jêje, originário do antigo Reino do Daomé.

O tambor grande é amarrado à cintura do tocador chefe, de pé, preso entre suas pernas. Os dois menores são apoiados no chão, sobre um tronco, com os tocadores sentados sobre os tambores entre suas pernas. Um ajudante, agachado atrás do tambor grande percute duas matracas, produzindo interessantes variações de acompanhamento.

Cada cântico se inicia com um solista que toadas de improviso ou conhecidas, repetidas ou respondidas pelo coro, composto por homens que se substituem nos toques (coreiros) e por mulheres dançantes (coreiras). Os cânticos possuem temas líricos relacionados ao trabalho, devoção, apresentação, desafio, recordações amorosas e outros.
O tambor de crioula é sobre tudo uma dança de divertimento, mas costuma ser realizada em homenagem a São Benedito, padroeiro dos negros do Maranhão, que representa o vodum daomeano Toi Averequete. Em muitos terreiros de tambor de mina (nome mais comum dado à religião de origem africana no Norte do Brasil), há entidades religiosas que gostam de festas de tambor de crioula. Estas festas costumam ser realizadas ao longo de todo o ano, inclusive no Carnaval.

Maracatu

O Maracatu Nação é uma manifestação da cultura popular brasileira, afrodescendente e de cunho religioso. Surgiu durante o período escravocrata, provavelmente entre os séculos XVII e XVIII, onde hoje é o Estado de Pernambuco, principalmente nas cidades de Recife, Olinda e Igarassu.Como a maioria das manifestações populares do país é uma mistura de culturas ameríndias, africanas e européias.

Apesar de existirem muitas visões, histórias e hipótes diferentes, a explicação mais difundida entre os estudiosos a cerca da origem do Maracatu Nação é a de que ele teria surgido a partir das coroações e autos do Rei do Congo, prática implantada no Brasil supostamente pelos colonizadores portugueses e por conseqüência permitida pelos senhores de escravos.

Os eleitos como Rainhas e Reis do Congo eram lideranças políticas entre os cativos, intermediários entre o poder do Estado Colonial e as mulheres e homens de origem africana. Destas organizações teriam surgido muitas manifestações culturais populares que passaram a realizar encontros e rituais em torno dessas representações sociais, dando origem ao Maracatu de Baque Virado.

Com a abolição da escravatura no Brasil, no fim do século XVIII, o Maracatu passa gradualmente a ser caracterizado como um fenômeno típico dos carnavais recifenses, como ocorreu com o Frevo e outras práticas populares tipicamente brasileiras, tendo em diversos “agrupamentos” uma forte ligação com a religiosidade do Candomblé ou Xangô Pernambucano.

Após um intenso processo de decadência dos maracatus de Recife durante quase todo o século XX, ocorreu nos anos 1990 o que podemos chamar de “Boom do Maracatu”. A prática ancestral adquiriu uma notoriedade que nunca havia conquistado antes, provavelmente resultado, entre outras coisas, da ação do Movimento Negro Unificado (MNU) junto a Nação Leão Coroado, (uma das nações mais tradicionais de Recife), do movimento Mangue Beat (que tem como principais expoentes Chico Science e o grupo Nação Zumbi, a Banda Mestre Ambrósio, entre outros), e do grupo Nação Pernambuco (uma de suas principais marcas foi ter separado a dimensão da música e da dança do Maracatu de sua dimensão religiosa).

Nesse contexto o Maracatu de Baque Virado saiu de seu palco principal que é a cidade de Recife e chegou a diversos outros lugares do país e do mundo. Atualmente existem grupos percussivos que trabalham com elementos da Cultura do Maracatu Nação em quase todos os estados brasileiros e em diversos países como Canadá, Inglaterra, França, Estados Unidos da América, Japão, Escócia, Alemanha, Espanha, entre outros.

Jongo

O jongo, ou caxambu, é um ritmo que teve suas origens na região africana do Congo-Angola.

Chegou ao Brasil-Colônia com os negros de origem bantu trazidos como escravos para o trabalho forçado nas fazendas de café do Vale do Rio Paraíba, no interior dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.
A demanda por mão-de-obra para o trabalho na mineração e nas fazendas de café intensificou o tráfico negreiro.

Com a decadência econômica de outras regiões do país, uma massa imensa de escravos imigrou para o Sudeste, onde, em alguns momentos, mais da metade da população era formada por africanos, a maioria de ascendência bantu.

A influência da nação bantu foi fundamental na formação da cultura brasileira. Para acalmar a revolta e o sofrimento dos negros e distrair o tédio dos brancos, os donos das isoladas fazendas de café permitiam que seus escravos dançassem o jongo nos dias dos santos católicos.


Para esses negros africanos e seus filhos, o jongo era um dos raros momentos permitidos de trocas e confraternização. O jongo é uma dança profana para o divertimento, mas uma atitude religiosa permeia a festa. Antigamente, só os mais velhos podiam entrar na roda. Os jovens ficavam de fora, observando. Os antigos eram muito rígidos com os mais novos e exigiam muita dedicação e respeito para ensinar os segredos ou "mirongas" do jongo e os fundamentos dos seus pontos.
Os pontos do jongo têm uma linguagem metafórica cifrada que exige muita experiência para desvendar seus significados.

Os jongueiros eram verdadeiros poetas-feiticeiros, xamãs, que se desafiavam nas rodas de jongo para disputar sabedoria. Com o poder das palavras e uma forte concentração, buscavam encantar o outro por meio da poesia do ponto de jongo. Quem recebesse um ponto enigmático tinha que o decifrar na hora e respondê-lo ("desatar o ponto"). Caso contrário, ficava enfeitiçado, “amarrado”, chegando a desmaiar, perder a voz, se perder na mata, ou até morrer instantaneamente.

Atualmente esses fatos não acontecem mais.
O jongo é uma dança dos ancestrais, dos pretos-velhos escravos, do povo do cativeiro e, por isso, pertence à "linha das almas". Contam que aquele que tem a "vista forte" é capaz de enxergar um antigo jongueiro falecido se aproximar da roda para relembrar o tempo em que dançava o caxambu.

Contam também que alguns jongueiros, à meia-noite, plantavam no terreiro uma muda de bananeira que, durante a madrugada, crescia e dava frutos distribuídos para os presentes.
Até hoje, alguns núcleos familiares de afro-descendentes persistem em manter viva a bela e misteriosa tradição do jongo.

O jongo influenciou decisivamente o nascimento do samba no Rio de Janeiro. No início do século 20 o jongo era o ritmo mais tocado no alto das primeiras favelas pelos fundadores das escolas de samba, antes mesmo de o samba nascer e se popularizar. Os antigos sambistas da velha guarda das escolas de samba realizavam rodas de jongo em suas casas. Nessas festas visitavam-se uns aos outros, recebendo também jongueiros do interior.
Os versos do partido-alto e do samba de terreiro são inventados na hora pelo improvisador. Esse canto de improviso nasceu das rodas de jongo.

A umbigada, que na língua quimbundo se chama "semba", originou o termo samba e também faz parte do samba primitivo. A "mpwita", instrumento congo-angolano presente no jongo, é a avó africana das cuícas das baterias das escolas de samba.


O jongo, por ser uma festa de divertimento, mas com aspectos místicos, fez com que a dança se restringisse aos ambientes familiares. Por isso, ao contrário do samba, que logo conseguiu hegemonia nacional, acabou sendo pouco divulgado, até surgir o movimento de resgate da sua memória, em redutos como o morro da Serrinha.

domingo, 25 de abril de 2010

Profecia do sertanista Orlando Villas Boas.

Para quem não viu, o P&P traz aqui a reportagem da Band TV, do jornalista Fábio Pannuzio, onde mostra a profecia realizada pelo sertanista Orlando Villas Boas, no Dia Mundial do Meio Ambiente.

Pouco antes de morrer, Orlando Villas Boas denunciou interesses estrangeiros na Amazônia e fez uma profecia sobre o futuro de terras indígenas na região. Veja na reportagem de Fábio Pannuzio, que em uma reportagem anterior já denunciava a presença ostensiva de estrangeiros na região.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Arte Muito Especial

Arte Muito Especial“. A mostra, com curadoria de Jorge de Salles, conta com aproximadamente 100 obras de 25 artistas plásticos brasileiros portadores de deficiência.

A entrada é gratuita e pode ser visitada de terça-feira a domingo, das 12h às 19h. O CCJF fica na Av. Rio Branco, 241 (Cinelândia).Mais informações pelo telefone (21) 2286-9336 ou clique aqui.

Penteados Afro

"A força simbólica do cabelo para os africanos continua de maneira recriada e ressignificada entre nós, seus descendentes. Ela pode ser vista nas práticas cotidianas e nas intervenções estéticas desenvolvidas pelas cabeleireiras e cabeleireiros étnicos, pelas trançadeiras em domicílio, pela família negra que corta e penteia o cabelo da menina e do menino. Pode ser vista também nas tranças, nos dreads e penteados usados pela juventude negra e branca. Se no processo da escravidão o negro não encontrava no seu cotidiano um lugar, quer fosse público ou privado, para celebrar o cabelo como se fazia na África, no mundo contemporâneo alguns espaços foram construídos para atender a essa prática cultural." (GOMES N. L. 2003).

Os penteados afrodescendentes fazem parte do legado cultural que a África nos presenteia. Com seus valores sociais, hierarquicos, míticos e religiosos. Pelas releituras feitas de maneiras sofisticadas ou pelos usos dos modelos tradicionais, os penteados são usados por homens e mulheres de todos os círculos culturais e sociais. Um reflexo da globalização que tem sua origem na triste história da escravidão do povo africano.

Ainda hoje em muitos lugares, devido ao poder de dominação da cultura dominante muitas pessoas afrodescendentes, ou não, desconhecem a beleza dos penteados e dos cabelos crespos. Em muitos casos desvalorizados em relação a supremacia da cultura do cabelo, liso e loiro das etinias de pele clara. O site LE COIL possui um acervo fotográfico de belíssimos penteados afros acessem!!!



segunda-feira, 22 de março de 2010

Teste de Racismo?

Este video chocante, foi baseado nos testes realizados pelos psicólogos americanos Kenneth and Mamie Clark, para tentar avaliar a percepção de crianças negras, de 3 a 7 anos, em relação a imagem sua própria etinia.

O vídeo nos mostra um reflexo triste de uma sociedade racista. Crianças são inocentes e não têm mentalidade suficiente para julgar nem discernimento para saber o que é certo ou errado. Apenas imitam as ações ou pensamentos dos adultos mais próximos. E desta forma refletem o contexto social e educacional em que estão inceridas.

O quão denegrida é tida a imagem do Negro? Denegrida? Já começa por aí! Verbo "denegrir"- Dicionário de Língua Portuguesa - tornar negro, macular, manchar. "Denegrir" e suas variações: "a coisa está preta", "o lado negro", etc. Qualquer tipo de associação desse gênero é automaticamente caracterizada como manifestação racista, discriminatória e preconceituosa, pois coloca a cor negra ou preta ligada a valores negativos.

Muitas vezes eu ouvi o absurdo de que "os negros são tão ou mais preconceituosos com eles mesmos do que os brancos em relação aos negros". O cerne desta afirmação é a questão de como foi destruída a identidade do povo negro e colocada no lugar uma falsa identidade negativa de inferioridade, assim como no caso dos povos judeos, vietinamitas, chineses, tibetanos, latinos e de todos os outros povos que foram e ainda são vítimas de preconceito e tiveram a sua imagem maculada e distorcida através de propagandas da política do imperalismo da aculturação na dominação e exploração de suas terras e escravização.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Toy art (brinquedo arte)


É um brinquedo feito para criar uma interação entre arte e brincadeira, dirigido para pessoas com idade acima de 14 anos, especialmente adultos. O toy art é, em síntese, uma "tela" em 3 dimensões para artistas e designers expressarem sua arte. Toy Art é manifestação contemporânea que se apropria do brinquedo para mesclar desing, moda e urbanidade.
Devido a sofisticadas intervenções artísticas, o brinquedo já possui status de obra de arte, com intuito de colecionalismo e decoração, gerando inclusive exposições em diversos países, até mesmo no Brasil.

Acessibilidade lúdica

É importantíssiomo pensarmos sempre de maneira inclusiva, a exemplo disto, o o designer Konstantin Datz, substituiu as cores visuais, pelo seu equivalente em Braille. Criando um cubo mágico para deficientes visuais. O nome dado ao brinquedo foi "Color Rubik Cube For The Blind", que ainda é apenas um conceito.Ele vem com os nomes das 6 cores (verde, azul, vermelho, amarelo, rosa e branco) escritas em Braille nos quadradinhos.

terça-feira, 16 de março de 2010

Geração digital

Atualmente, com toda a tecnologia ao nosso redor, praticamente tudo o que vemos e fazemos está inserido no mundo tecnológico. Mas, os avanços se desenvolvem com tanta rapidez e exigem novos conhecimentos com tantos detalhes, que muitas vezes é difícil de acompanhar.

No entanto, a nova geração,que já nasce em um mundo bem diferente do mundo que conhecemos no século passado (estamos velhos, rsrsrs) não entendi muito essa dificuldade. Vivemos no que muitos chamam de era da informação e comunicação. Nunca foi tão rápido a troca de informações no nosso planeta. Podendo, hoje em dia, uma pessoa estar de um lado da Terra e outra no extremo oposto, com a internet estamos todos conectados em tempo real. A nova geração desde a infância tem a relação com as novas tecnologias de maneira natural. Isso porque ela simplesmente não sabe o que é um mundo sem ipods, iphones, mp3, mp4, celulares, internet, bancos online, etc. O vídeo acima dá uma pequena amostra de como as crianças de hoje se comportam perante as novas tecnologias.

Milton Santos. O Mundo Globalizado

Encontro com Milton Santos, documentário sobre a visão de Globalização do grande intelectual brasileiro Milton Santos (1926-2001). Descendente de ex-escravos emancipados, formado em Direito pela Universidade Federal da Bahia (1948), Doutorado em Geografia pela Universidade de Estrasburgo (França).

Atuou como jornalista e Professor Universitário das universidades de Paris (França), Columbia (EUA), Toronto (Canadá) e Dar Assalaam (Tanzânia). Também lecionou na Venezuela e Reino Unido. Foi professor da Faculdade de Filosofia, Ciências Humanas e Letras da USP (FFLCH), consultor da OIT (Organização Internacional do Trabalho), da OEA (Organização dos Estados Americanos) e da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). Milton Santos foi o único intelectual não pertencente ao mundo anglo-saxão a receber, em 1994, o prêmio Vautrin Lud, considerado o "Nobel" da geografia.